segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

"I'm a good girl, I am!"

Quem já assistiu My Fair Lady cansou de ouvir a frase acima. Eliza Doolittle abusa do direito de usar essa frase.

Poucos sabem, entretanto, que a Eliza de Audrey (e, anteriormente, de Julie Andrews) foi inspirada em um livro, Pigmaleão, uma "peça em cinco atos", de George Bernard Shaw.


Sempre tive vontade de ler esse livro, porque amo o filme, os personagens, as músicas... Ajuda também a minha paixão pelo Higgins. Não me levem a mal, eu não sou apaixonada por ele de forma romântica, gosto apenas do personagem em si, do que ele faz da vida e de algumas coisas que ele diz ("she's do deliciously low, so horribly dirty!").

Eis que, depois de bastante tempo procrastinando, fui lê-lo. E me apaixonei outra vez.

A fidelidade dos filmes antigos aos livros é algo que jamais deixará de me surpreender. As falas continuavam na íntegra, as cenas se passavam de forma idêntica ao livro... E com Pigmaleão, não foi diferente.

O livro se move em uma velocidade bem mais rápida do que o filme, com seus 170 minutos de duração. Por conta dessa dinamicidade e rapidez, o livro é facílimo de ler, e facilmente devorável. Apesar de ser uma peça, Bernard Shaw faz com que o leitor se sinta, de fato, dentro da cena, descrevendo muito bem os locais da história.

Para quem não conhece a história, o professor Higgins é um homem que se especializou em estudar fonética, e é capaz de dizer de onde uma pessoa vem apenas ouvindo sua voz. Em uma noite chuvosa, ele conhece Eliza Doolittle, uma mocinha vendedora de flores que fala com um sotaque dolorido. Nessa mesma noite, conhece Pickering, um estudioso das línguas hindus, e diz a ele que transformaria Eliza em uma dama dentro de seis meses. Eliza o procura no dia seguinte, e Pickering e Higgins "adotam" a garota para ensiná-la a falar de forma adequada.

No meio da história, Doolittle reencontra o pai, ganha um admirador (o lindo Freddie) e descobre, sozinha, que a diferença entre uma dama e uma vendedora de flores está no modo como os outros a tratam, e no modo como ela mesma se vê.

Julie Andrews como Eliza em My Fair Lady, nos palcos

Como eu disse, o filme é extremamente fiel à peça, com exceção do final (spoilers, shh), que deveria ser melhor, mas machuca do mesmo jeito. Para quem já viu o filme, a peça serve para fazer você se apaixonar outra vez e imaginar Audrey Hepburn dizendo "Garn!".

É perfeita, também, para quem é leitor em inglês analisar as diferenças entre uma fala e outra, e sou suspeita para falar, massou apaixonada por todo esse estudo da fonética e ensinar Eliza a "falar".

Outro ponto importante a destacar do livro é que ele não retrata Eliza na festa, após seus seis meses de ensino, e toda aquela comoção de The Rain In Spain não existe. Na minha opinião, isso só faz com que o amor dela por Higgins (e vice versa) seja mais misterioso e deixa bastante à imaginação. Pickering diz que a noite foi um sucesso, sim, mas o que aconteceu por lá?

Fazendo minhas pesquisas sobre o livro/peça, descobri que existe algo em psicologia chamado de "Efeito de Pigmaleão", que é o nome dado "ao efeito de nossas expectativas e percepção da realidade na maneira como nos relacionamos com a mesma, como se realinhássemos a realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela".

Muito, muito interessante. O livro é ótimo, o filme também. É um daqueles que eu recomendo que todos leiam e vejam, que acrescenta muito.

Em inglês, ele já caiu em domínio público, e pode ser baixado no site do projeto Gutenberg, aqui.

Já em português, ele foi traduzido pela L&PM Pocket, por Millôr Fernandes, e é baratinho.

Para ir pro site, clica na capinha linda aí em cima, ou aqui.

O filme dá para achar no youtube, e o dvd dele nem é tão caro e tem extras maravilhosos (como a confissão de que Audrey Hepburn cantava nada).

É isso, então. Ah, a definição de "Efeito de Pigmaleão" eu achei nesse blog.

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