sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sobre a arte de pedir

Terminei o livro da Amanda Palmer. Tentei ser o mais objetiva possível na minha resenha, que deve ser postada no Leitores Depressivos em breve, e decidi deixar meu lado sentimental e minhas ideias pós-leitura fluírem por aqui. Porque se tem alguma coisa que eu quero fazer depois de ler esse livro, é compartilhar com o mundo.



Em primeiro lugar, acho que todo mundo deveria lê-lo. Mesmo não sendo fã da Amanda. Porque ela apresenta uma coisa tão bonita, uma ideia de pedir sem medo, de ser mais humano, que acho que todos deveriam aprender.

Dito isso, posso seguir com os meus devaneios.

Preciso dizer que não sabia que ela falava do Neil no livro. Lógico que eu supunha que ela diria uma ou duas palavras sobre o cara da vida dela, mas ugh. Não do jeito que ela falou. Eu simplesmente não aguentei. Eu já estava emocionalmente abalada com o livro, já tinha chorado com uma ou duas passagens em que ela falava sobre pedir e como pedir é um ato de confiança mútua, mas o que realmente me quebrou foi a seguinte passagem:

 "Really. And I've decided something.
What's that?
I've decided that I'm not going anywhere.
Sorry. What?
I'm not going anywhere, he repeated.
I don't know what you mean, Neil.
I mean, he said, speaking more slowly, that I'm not. Going. Anywhere. Even if it takes years. I think I'll stay right here.
Like... here at the corner table? I joked nervously. You mean you're never going to leave Cafe Gitane ever? That sounds very Neil Gaiman-y.
No, he said, plainly. I'll leave this café. But I won't leave you. That's what I mean. I'm not going anywhere." 

Nada que eu possa dizer vai fazer jus ao que eu senti ao ler essa parte. Sempre tive uma pontinha de inveja do relacionamento do Neil com a Amanda (do mesmo jeito que invejo Tim e Helena e Neil e David), mas nunca que eu imaginaria que o começo da história deles tinha sido tão bonito. Suspirei. 

O livro em si é lindo, um manifesto para as pessoas serem, como eu já disse, mais humanas, menos preconceituosas, e aprenderem a pedir e a aceitar ajuda. Deixar o orgulho de lado.

Como o título já diz, o livro The Art Of Asking fala incessantemente da arte de pedir, mesclando com aspectos da vida pessoal da Amanda. O livro me fez pensar.

Assim como Amanda, eu sempre tive facilidade para pedir as coisas (até mesmo absorventes), e sempre consegui me virar quando recebi um (ou mais de um) "não". Por mais que doesse, por mais complicado que fosse, eu sabia que me expor daquele jeito, para pedir, significava que eu poderia muito bem receber um não, e já me preparava para isso.

Não me considero uma pessoa pessimista, mas aprendi a lidar com os nãos que a vida traz. Mas, apesar de saber como pedir, eu nunca fui lá muito boa em dizer não.

Sempre me lembro daquela cena de "Vestida Para Casar" em que o Kevin está bebendo com a Jane e ele tenta ensiná-la a dizer não. Eu sempre fui assim. Sabia dizer não para coisas que eu considerava absurdas, mas para as mais simples (vide a hora que ele pede para beber o drinque dela) eu simplesmente bloqueava. Era como se eu tivesse uma barreira emocional que não me deixava dizer "ei, amigo, isso está me incomodando, então vou te dizer que não".

Não adiantava seguir conselho dos amigos. Não adiantava ouvir todo mundo me dizer para falar não, eu era muito covarde, eu pensava muito "ah, mas essa pessoa me pediu, me perguntou, eu não queria chatear ela", ao mesmo tempo em que recebia "nãos" da vida.

Então, aos poucos, com muita demora e muitos tapas na cara que a vida me deu, eu descobri que a arte de pedir demanda algumas negativas. Se eu simplesmente dissesse sim a tudo, deixasse que todos fizessem o que quisessem comigo, eu passaria por situações que me deixariam mal, que me afetariam de uma forma negativa. E não era isso que eu queria.

Estabeleci duas formas de dizer não. A primeira, bem simples, depende de quem me perguntou: eu gosto daquela pessoa o suficiente para dizer sim? Ela já me disse sim alguma vez? A segunda é aquela em que eu tenho que pensar. Pensar se vale a minha energia dizer sim, se vai me fazer feliz dizer sim. 

Nós estamos acostumados a ver o não como uma palavra muito feia, muito má, muito ingrata, mas nós precisamos de algumas negações na vida para poder aprender a seguir em frente. Precisamos nos valorizar, mesmo que isso signifique dizer não algumas vezes.

E olha, se eu recebi "nãos" repetidas vezes e ainda estou aqui, aquela pessoa para quem eu disse não também consegue se recuperar. 
 

Moral da história: leiam o livro da Amanda, peçam, aceitem o não como um presente e o sim como uma dádiva.

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